O Álcool

O álcool é uma substância psicoativa com potencial aditivo, cujo consumo excessivo representa um problema de saúde pública, com impacto na saúde física, mental e social dos indivíduos. De acordo com a DGS, os limites diários recomendados são: para indivíduos do sexo masculino entre os 18 e os 65 anos até duas unidades padrão por dia; no sexo feminino, o consumo máximo diário recomendado é até uma unidade padrão. Uma unidade padrão de álcool corresponde a aproximadamente 10 gramas de álcool puro, ou seja, o equivalente a cerca de uma cerveja (0,33 L), um copo de vinho (0,15 L) ou uma medida de bebida destilada (0,04 L).
O consumo de álcool no ambiente de trabalho representa um desafio significativo tanto para a saúde individual dos trabalhadores como para o desempenho e segurança das organizações. A ingestão excessiva de álcool está associada a múltiplos riscos que comprometem o bem-estar físico e psicológico, a produtividade e a segurança no local de trabalho.
Riscos associados ao consumo excessivo de álcool O consumo excessivo de álcool está associado ao desenvolvimento de diversas patologias, entre as quais: doenças hepáticas, doenças cardiovasculares, doenças oncológicas (nomeadamente, cancro esofágico, cancro hepático e cancro oral) e doenças psiquiátricas (depressão, ansiedade, dependência). Além dos efeitos diretos na saúde, o álcool pode afetar o desempenho no trabalho de várias maneiras: aumenta o risco de acidentes de trabalho, sobretudo em contextos que envolvem maquinaria, condução ou tarefas críticas; compromete as funções cognitivas e motoras, reduzindo a atenção, os reflexos e a capacidade de tomar decisões; contribui para o absentismo laboral e redução da produtividade, além de poder afetar negativamente o ambiente de trabalho e as relações interpessoais.
Recomendações para a gestão do consumo de álcool no local de trabalho
1. Programas de sensibilização: implementar campanhas educativas sobre os riscos do consumo excessivo de álcool, promovendo comportamentos responsáveis e informados. Devem ser adaptadas ao contexto laboral e cultural da organização, e podem incluir materiais visuais, sessões de esclarecimento e formação contínua.
2. Política clara sobre álcool no local de trabalho: definir, formalizar e comunicar uma política de consumo de álcool que abranja a proibição de consumo durante o horário de trabalho, orientações para eventos corporativos e ações sociais, promoção de alternativas sem álcool em eventos da empresa. Esta política deve ser integrada na cultura organizacional e aplicada de forma consistente.
3. Reconhecimento precoce e sinais de alerta: a deteção precoce de situações de consumo problemático é fundamental para uma intervenção eficaz e para evitar consequências mais graves, tanto para o trabalhador como para a organização. Devem ser identificados sinais de alerta como:
a. Absentismo frequente ou faltas injustificadas;
b. Atrasos reiterados;
c. Diminuição do desempenho ou falhas nas tarefas atribuídas;
d. Aumento de acidentes ou incidentes no trabalho;
e. Alterações de humor ou comportamento, como irritabilidade, retraimento ou instabilidade emocional;
f. Dificuldades nas relações profissionais ou pessoais.
Além disso, podem surgir efeitos físicos visíveis, tais como: perda de memória temporária ou confusão, dores de cabeça, insónia, ansiedade ou náuseas, rubor facial, capilares rompidos na face, voz rouca, tremores nas mãos, diarreia crónica ou presença de sangue nas fezes/vómito. É importante notar que estes sintomas, isoladamente, podem estar associados a outras causas médicas ou psicossociais, pelo que a avaliação deve ser cuidadosa e feita por profissionais qualificados. Ainda assim, a vigilância ativa e informada por parte de colegas, superiores e serviços de saúde ocupacional pode ser decisiva na deteção precoce de situações de risco e apoio prestado.
4. Apoio psicológico e intervenção precoce: Garantir o acesso a apoio psicológico, individual ou em grupo, e a programas terapêuticos adequados, ou programas de reabilitação e reintegração. Criar um ambiente organizacional que favoreça a comunicação aberta e a procura de ajuda, combatendo o estigma associado ao consumo problemático de álcool. O tratamento eficaz não só melhora a saúde e qualidade de vida do trabalhador, como também contribui para um ambiente mais seguro, produtivo e saudável.
5. Promoção de ambientes de trabalho saudáveis: A cultura da empresa influencia fortemente os hábitos dos trabalhadores. Ambientes que toleram ou normalizam o consumo de álcool dificultam a implementação de medidas preventivas. É essencial promover uma cultura de responsabilidade, saúde e bem-estar, com alternativas de convívio que não incluam bebidas alcoólicas, incentivando práticas sociais positivas e inclusivas.
6. Avaliação das políticas implementadas: é recomendada a avaliação periódica das políticas relacionadas com o álcool, através de inquéritos de satisfação e perceção dos trabalhadores; análise de indicadores como taxas de absentismo e incidentes relacionados; feedback qualitativo sobre o impacto da cultura organizacional e das ações de prevenção.
Fonte: Manual de Promoção da Saúde Ocupacional - ULS S. João

